Realidades InConcretas por Fadia Mufarrej

 
 
 

Realidades InConcretas

POR FADIA MUFARREJ

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Como vive-se a quarentena no Brasil?

O isolamento social no Brasil não é uma regra é um privilégio, faz quem pode e não quem quer, diz-se por aqui, que estamos em um auto isolamento por escolha. O governo brasileiro não fez da quarentena algo necessário ou essencial, ao contrário, o Presidente eleito faz apologias a quebra das medidas de saúde sugeridas pelas organizações mundiais especialistas no tema, ridiculariza o afastamento físico, e faz chacotas públicas como “é só uma gripezinha” e “e daí”para referir-se a pandemia que assola o mundo.O cenário político, social e sanitário no país é o mais cruel desde o período da ditadura militar na década de 70. Presenciamos dentro de nossas casas através dos noticiários transmitidos pela televisão e internet a queda do nosso sistema democrático, escândalos envol- vendo o chefe de estado e seus familiares, ministros pedindo exoneração de seus cargos, Juízes sendo desrespeitados por alcunhas de baixo calão proferidas por membros do governo, imprensa perseguida e vetada por tentar exercer seu papel, neste cenário de caos encontro-me em uma cidade de médio porte do Brasil, Belém na Amazônia, com milha- res de mortos pelo Covid-19, as autoridades locais envolvidas em escandalos de corrupção, o sistema de saúde e funerário estadual colapsado.De dentro da minha ilha de previlégio observo a tudo isso impotente, a angustia por não saber o que o futuro reserva é uma constante, a espera eterna, e a vida como conhecíamos antes virou uma utopia. A série fotográ ca a seguir retrata um pouco do dia-a-dia da casa de uma família de classe média no Brasil em 2020 durante os meses de auto isolamento devido a pandemia mundial do Covid-19.


Bio

Artista e produtora audiovisual paraense, graduada em comunicação pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) em São Paulo, Brasil, em 2015. Iniciei minha carreira a partir da documentação de foto e video.

Em 2013 tive o meu primeiro contacto com fotogra a pro ssional através de um estágio realizado no festival de fotogra a Paraty em Foco (RJ-BR) após esta experiencia, atuei como produtora em programas brasileiros de televisão. Os primeiros projetos autorais começaram após viver em Londres em 2016 onde estudei cinema documental na Met Film School, finalizei meu curso com um mini documentário sobre uma mãe libanesa chamado Learning to Fly, ao regressar ao Brasil fiz um curso na associação Fotoativa, com tutoria da artista visual Ana Lira, que mudou minha visão sobre produção artística e formas de produzir um objeto de arte. Finalizamos este curso com uma mostra coletiva de processos de criação na associação, onde trabalhei a memória afetiva a partir de uma série fotográfica e instalação com tijolos sobre o mais antigo armazém ainda em funcionamento de minha cidade natal, a Casa Salomão.

Em 2017, ingressei no mestrado em Arte Design para o espaço público na faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e durante o curso desenvolvi o projeto Em tradução, narrativas entre os dois lados do atlântico, que consiste em uma pesquisa fotográfica sobre o espaço público de cidades homônimas entre Brasil e Portugal. As similaridades e dissonâncias assimiladas neste projeto foram apresentadas através da construção de um fotolivro onde a experiência narrativa convida o observador a imergir no imaginário de seis cidades, Óbidos, Santarém e Salvaterra, tanto do Brasil como em Portugal, e perder-se entre elas sem saber em que país está, convidando a refletir sobre a experiência proporcionada pela observação do espaço público e também sobre o passado e o presente.

Além do fotolivro, participei de uma mostra coletiva dos finalistas do mestrado em Arte e Design para o espaço público (2017/2019) na galeria da faculdade de Belas Artes da U.Porto, onde apresentei o mesmo projeto através de fotografias, serigrafia em tecido e uma pequena instalação. Em 2020 participei de uma mostra individual para novos artistas promovida pelo Canto Coworking (Belém/PA-BR) com o mesmo projeto. Temas como memória, colonialismo, uxos urbanos e mapas geográficos os quais são frequentemente abordados em meus projetos.